“ Afirma-se muitas vezes e com razão que uma corporação não tem consciência. Mas uma corporação de homens conscientes é corporação com consciência. Nunca a lei tornou um mais justo; é por causa do respeito pela lei que até alguns bem intencionados se tornam todos os dias sementes de injustiça. Comum e natural resultado do respeito indevido à lei é o espectáculo que assistimos dos desfiles militares: o coronel, o capitão, o cabo, os soldados rasos, todos a marcharem em ordem admirável, por montes e vales, a caminho da guerra, contra a sua vontade, pior ainda, contra o senso comum e a consciência, o que torna árdua a marcha e faz quebrar o coração. Eles próprios sabem que estão a cometer um acto condenável: são pacíficos por natureza. Mas o que são eles afinal? Serão de facto homens? Ou são fortalezas e arsenais ambulantes, ao serviço de um homem pouco escrupuloso que se encontra no poder.”
Uma obra sem dúvida marcante, que analisa de uma forma incisiva e objectiva a essência ética da nossa sociedade, e um dos aspectos mais evidentes emerge de forma clara e cáustica: a ética superior da moral humana implica, na sua plenitude e na maior parte dos casos, a violação dos códigos legais impostos pelos indivíduos e sociedades de uma determinada época. Desobedecer é então o movimento verdadeiramente criador e impulsionador da ética humana, de forma intemporal e primordial, a concretização dos princípios da verdadeira Igualdade e Fraternidade.
Jown Brown sabia-o de forma incorruptível. Thoreau recorda-o de forma irrepreensível. Thoreau, que neste época de acesa globalização e exploração, desumanismo e repressão, é preciso compreender e talvez ambicionar um pouco da sua coragem, dissipadora de todos os medos e prisões mentais que transpirámos mesmo sem o perceber.
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