Sono Outonal
O dia despertou envolto numa opaca película de nevoeiro … Cumpre-se o ciclo cadente das Estações e o Outono brota com cada vez maior fulgor em cada espasmo de vida. A Natureza sucedendo à Natureza na sua mais primordial condição de transmutabilidade. Folhas amarelecidas precipitam-se verticalmente no chão, agitando com elas a espessa poeira de todas as recordações e vislumbres de memória que assomam os sentidos … Somos a soma de tudo o que vivemos ampliado até ao infinito por tudo o que poderíamos ter vivido… e é quase como que se ambas dimensões se fundissem em silenciosa dissolução …
Rastos … perenes pegadas que deixámos expostas à irrevogável cadência das Estações, cumprindo-se instante após instante, brotar após brotar, sentido após sentido …
Longe … pressinto a lonjura que abarca teu quente respirar com o desígnio de ave migradora … tenho essa mesma sede de infinito que liberta e enclausura … essa semente dínamo de todas as divagações que me assaltam persistentemente … vi uma lânguida sombra, e sabia que não lhe podia mais reconhecer os contornos ou arfar …
As árvores mergulhavam em seu longo e lento sono outonal … dissolvendo os ténues vestígios de exactidão que se imiscuíam ainda em todas as imprecisões que nos definem …
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